27.11.11

O que é arte afinal?

Gosto muito de citar o Ferreira Gullar. Concordo com sua ideia de que o homem se inventa e inventa o mundo em que vive. Por isso mesmo, tenho cá minhas dúvidas sobre a crítica do poeta à nova arte realista. Como poderíamos falar de realismo se o mundo é inventado, culturalmente constituído?

Consideremos uma obra comentada por ele hoje na Folha: a exposição de casais nus em pelo nas salas do MoMA, de Nova York. Para Gullar, é um exemplo de como a arte conceitual teria deixado de ser arte, porque, para sê-lo, deveria maravilhar.

Nem me aprofundarei num fato elementar: uma obra de arte precisa ser unanimemente maravilhosa? O que seria das vanguardas de todas as épocas se fosse este o caso? Seriam acusadas, como o foram por alguns, de não ser arte.

Mas vamos adiante, porque se o mundo é inventado e o papel da arte é reinventá-lo, como vive afirmando o poeta, não estaria a tal exposição de casais nus tratando exatamente disso? Colocá-los nas salas do MoMA não seria um modo de questionar e reinventar o espaço do museu e a própria arte?

A este respeito, concordo com o filósofo e poeta Antonio Cicero: qualquer objeto pode ser considerado arte se for retirado do seu contexto utilitário ou cognitivo e apresentado à apreciação estética. Segundo ele, uma obra de arte vale por si quando:
"mesmo sem nenhuma finalidade biológica, prática ou cognitiva, ela mobiliza, vitaliza e faz interagirem no mais alto grau as nossas faculdades, as nossas capacidades, os nossos recursos. Quando ela nos atrai e nos faz pensar nela com vários dos recursos de que dispomos: inteligência, razão, cultura, sensibilidade, sensualidade, emoção, senso de humor etc. Está justamente na provocação e na mobilização dos nossos recursos o valor dela."
A citação faz parte de uma longa entrevista que Antonio Cicero e eu realizamos para o portal Cronópios. Conversamos justamente sobre o fim das vanguardas e a definição do que é arte a partir de uma situação específica: a liberdade e o juízo de valor na poesia. Vale a pena ler, é um bom contraponto ao pensamento conservador do Ferreira Gullar.

Leia também: Arte e manhas do branding.

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