24.2.13

Clarice Lispector, etnógrafa do consumo

Este trecho do conto Amor, de Clarice Lispector, parece até parte de um relatório de pesquisa qualitativa sobre o consumo de produtos para decoração e artesanato por certas donas de casa - um relatório que fosse escrito por uma pesquisadora tão perspicaz e artista quanto ela. Os melhores ficcionistas são excelentes etnógrafos afinal, sempre muito atentos às motivações simbólicas das pessoas.

"Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.

No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado."

Leia também: Para que serve a etnografia no marketing.

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