1.10.16

A vida social na era do Facebook

Topei esses dias com três ótimos textos sobre a pobreza da nossa vida social no Facebook. São leituras de riscos e ameaças, que, ao final desta nota, tento relativizar com a alegria de uma experiência antropológica.



O primeiro desses textos é leve e irônico - você vai rir um bocado: um post da Mariana Miranda, uma das pessoas mais criativas com quem já trabalhei: A fórmula para fazer sucesso na internet. Divirta-se.

O segundo é uma coluna do Contardo Calligaris na Folha. É um depoimento no melhor estilo da psicanálise: como já disse J.-D. Nasio, "para apreender as causas secretas que movem o outro, é preciso, primeiro e acima de tudo, descobrir essas causas em si mesmo". O título: Somos os maiores inimigos da nossa possibilidade de pensar (o texto foi compartilhada pelo André Vallias no... Facebook).

Este trecho resume bem a preocupação do colunista:
De um lado, o leitor do "feed" não se informa para saber o que aconteceu e decidir o que pensar, ele se informa para fazer grupo, para fazer parte de um consenso. Do outro, o comentarista escreve sobretudo para ser integrado nesses consensos e para se tornar seu porta-voz.

O resultado é uma escrita extrema, em que os escritores competem por leitores tanto mais polarizados que eles conseguiram excluir de seu "jornal" as notícias e as ideias com as quais eles poderiam não concordar: leitores à procura de quem pensa como eles.
Finalmente, há este ensaio muito didático do João Carlos Magalhães no jornal Nexo: Democracia e Internet: precisamos falar sobre algoritmos. É um dos melhores artigos que já li sobre o assunto.

Para o autor, as redes sociais têm sido úteis na mobilização política de minorias e da oposição, mas seus algoritmos inteligentes, criados para tornar a publicidade mais personalizada e relevante, podem no final das contas estar empobrecendo a nossa cultura, comprometendo a privacidade, a diversidade, a igualdade e a liberdade de expressão.

Apesar de todos esses perigos, noto que a própria rede que nos aprisiona em bolhas sociais e ideológicas, nos oferece saídas também, as quais, aliás, são de uma potência inédita. Você percebe? Agora estamos a um clique da tribo mais estranha que podemos conhecer na vida.

Qualquer internauta pode se presentear com uma experiência antropológica dessas. Basta abandonar por algum tempo o ambiente aconchegante e alienador da sua panelinha para ter um encontro com aquele outro modo de vida tão diferente que, por contraste, fará você ver que aquilo que você chama de realidade é somente mais um dos muitos mundos possiveis.

Leia também: A arte de viver em rede

Nenhum comentário:

Postar um comentário